quinta-feira

Champagne: minha lição de vida

Certa vez, em uma véspera de réveillon, eu estava triste e desolado. Descrente comigo e com a vida. Estava sem brilho e sem perspectivas. Mamy Gloss ficou feliz ao me ver naquele estado, achou que eu estava virando homenzinho e que, finalmente, ia tomar um rumo na vida. Sem se conter de felicidade, mamãe esboçou algumas palavras e comentou com aquela sua cliente rica, Elvira Berta, que achava que eu finalmente tinha deixado aquele meu jeito exagerado e extravagante de ser. Elvira Berta ouviu tudo calada, apenas bebericava seu champagne. Quando Mamy terminou de fazer a unha, Elvira mandou me chamar, disse que queria conversar comigo. Elvira sempre me surpreendeu. De um modo geral, ela me ignorava ou fazia um ar blasé quando se dirigia a mim. Não sei por que, neste dia, ela me chamou reservadamente para conversamos no gazebo, que ficava no jardim de sua casa. Ela, que já vinha bebendo champagne desde o início da tarde, recostou-se confortável e elegantemente em uma chaise longue e disse para eu me acomodar na outra ao lado. Sentei-me desconfortável e desengonçadamente. Anos mais tarde, quando atingi a consciência corporal plena é que passei a conseguir me sentir à vontade em móveis com design sofisticado. Ela me olhou ali com um ar esnobe e pediu para Javier, seu mordono argentino, servir-nos Veuve Clicquot. Depois de bebericar, ela já disparou:

- Sei que você está mal, mas isso não é desculpa para se sentar desse jeito. Esse ombro arqueado, essa coluna torta, esse pescoço projetado para frente, enfim, essa compleição física de retirante sofrido, que carrega nas costas o peso da pirâmide social, irrita-me profundamente. A falta de postura é, antes de tudo, uma fraqueza de espírito. Ter postura é um ato de coragem, é muito mais um ato de não-aceitação da sua condição do que a inevitável consequência de uma vida sofrida sobre suas vértebras. Se você aceitar tudo que lhe jogam nas costas, vai envelhecer encurvado e no fim de uma existência medíocre, vai estar literalmente arrastando a cara no chão. É isso que você quer? Se você quiser livrar-se desse ranço de deselegância que você arrasta, comece por uma postura adequada. E por "postura adequada" entenda-se: estado de espírito adequado, nem que isso signifique desprezar e ignorar tudo aquilo e aqueles que lhe joguem para baixo. E, por favor, quando eu estiver falando com você, olhe diretamente nos meus olhos. Desvios de olhar frequentemente são os primeiros sinais de desvio de caráter... Mas lhe chamei aqui porque sua mãe disse que você andava descrente, murcho, apagado... Em se tratando de você, achei, no mínimo, improvável que tais adjetivos pudessem ser aplicáveis a sua pessoa. O que aconteceu com você para lhe deixar nesse estado?

Aquelas primeiras palavras de Elvira me deixaram em pânico. Era um misto de medo, desconforto e um pouco de desilusão comigo mesmo. Eu estava desbaratinado. Apesar de antes eu sempre ter treinado com água gaseificada, era a primeira vez que estava bebendo champagne e não foi nada glamuroso. Quando vi, estava segurando a taça com as duas mãos e o cristal estava todo impregnado de suor. Tinha crises terríveis de sudorese quando ficava nervoso. Fiquei catatônico por um tempo. Elvira já impaciente, disse para que eu respondesse logo. Foi então que recobrei a consciência. Balbuciando e gaguejando respondi:

- Não, não aconteceu nada não. É que sou muito estranho. Desde de quando era mais novo, só escuto todo mundo dizer: "Hugo não é de Deus, tem alguma coisa errada com esse menino."; "Isso daí é castigo, pra mãe dele aprender a ser menos assanhada."; "É falta de pai, filho de mãe solteira dá nisso, vira meia-moça.". Quando tava no primário, uma professora me deu zero, só porque minha prova tava toda beijada de margarina e quando foi me entregar ainda disse na frente de todos os colegas: "Você é uma aberração, Doriana". Dentro de mim eu me acho o máximo, mas os outros sempre mangam de mim. Aí tenho vontade de chorar. E agora só fico feliz quando me escondo dentro de uma caixa de papelão, que veio na geladeira nova do vizinho. Eu fico assim, perdido, não sei o que ser.

Enquanto eu falava, em vários momentos Elvira se segurava para não rir. Mas sempre muito direta e objetiva ela levantou a taça de champagne contra a luz e disse:

- Tá vendo isso daqui? É a minha bebida predileta. Já há um bom tempo o champagne é considerado o ouro líquido e espumante. Mas nem sempre essas borbulhas, que hoje trazem à nossa mente uma profusão de aromas elegantes e alegres, foram bem vistas. O champagne começou como um vinho que deu errado. Você não deve saber nada de vinhos, não é? Então deixe-me explicar. A base da fabricação dos vinhos é a fermentação. Antigamente, colocava-se o suco em barris abertos e, com a temperatura ideal, as leveduras se deliciavam com o suco de uva. Os subprodutos daquele banquete de fungos eram o álcool e o gás carbônico, que escapava para o ar. Ocorre que, durante o Século XVII, numa época que hoje é conhecida como Pequena Idade do Gelo, as baixas temperaturas do inverno interrompiam o processo de fermentação. As leveduras permaneciam adormecidas até a primavera, quando então acordavam e reininiciavam o processo de fermentação, que havia sido interrompido. O problema é que na primavera os vinhos já tinham sido transferidos para os barris fechados e o gás carbônico que agora era liberado ficava retido dentro do barril, em forma de pequenas borbulhas. No início, essas borbulhas nada mais eram do que uma incoveniente espuma que "estragava" o vinho. Quando o vinho tinha essas borbulhas, era chamado "vinho do diabo". As borbulhas, que hoje são objeto de veneração, eram consideradas como um indesejado acidente. Havia até um monge cego especialista em eliminar tais bolhas, tratava-se do lendário Dom Pierre Pérignon, que hoje tem seu nome imortalizado num dos mais aclamados champagnes do mundo. E como a vida é uma ironia e os golpes de publicidade não são uma virtude exclusiva dos nossos dias, há muito criou-se uma lenda de que Dom Pérignon teria "inventado" o champagne. Mas, como eu disse, tudo não passou de um acidente e as preciosas borbulhas eram vistas como um estorvo a ser eliminado.

Eu fiquei sem entender por que diabos ela tinha me dito aquilo. Ela, já se antecipando, disse:

- Eu sei que tudo isso é muita informação para você. No entanto, suponho que você seja inteligente o suficiente para perceber que essa história de como o champagne passou a borbulhar é uma lição de vida e superação. As borbulhas incovenientes, que "estragavam" o vinho, que era sinônimo de desgraça para vinicultores, com o passar do tempo, tiveram o seu valor reconhecido. E, de um indesejado acidente, o champagne passou a ser o mais desejado item de celebração nas festas de Luís XIV. Luís LX levou-o ao status de delírio na corte francesa. Nas festas de Napoleão, costumava-se beber em torno de 1000 garrafas em uma única noite. Somente os mais ricos, dentre os mais ricos, conheciam o apelo sensual do champagne. Madame Pompadour costumava dizer que "o champagne é o único vinho que deixa a mulher mais bonita depois de beber". De vinho renegado, o champagne passou a ser a bebida mais cultuada. Na escala evolutiva do refinamento, vez ou outra, o luxo e glamour encontram resistência até serem plenamente aceitos, Hugo. Geralmente, aquilo que subverte a noção óbvia das pessoas é hostilizado. E é isso que acontece com você. Você tem ar exótico, às vezes um pouco vulgar é certo, mas com alguns ajustes você pode se tornar um porta-voz do glamour. Você causa incompreensão nas pessoas. Você, definitivamente, não é óbvio. Das personalidades, de um modo geral, só me interessam aquelas que não são óbvias. Aquilo que é comum, corriqueiro, padrão me enfastia. Hugo, a vida para mim é uma passarela e eu estou sempre sentada na primeira fila. Estou exaurida com a mesmice. Você tem algo diferente. Você pode borbulhar.

Ela mal terminou de falar e eu me levantei. Um outro efeito colateral do meu nevorsismo foram os gases. Corri para o banheiro da dependência de empregada, mas antes de chegar, soltei um punzinho molhado. Sujei toda a minha cueca. Mas mesmo borrado, tinha voltado a me sentir o máximo. A partir dali decidi que não mais ia ser vítima da incompreensão alheia. E foi naquela tarde que concluí: se o verdadeiro champagne representa a volúpia em seu mais alto grau de luxo, a Sidra representa o apelo vulgar de uma prostituta desdentada.

Ter um passado para contar e uma história de vida é tendência. Hugo Gloss não se envergonha do seu passado. Hugo Gloss é a segunda fermentação do ser humano. Hugo Gloss é o acidente cuja consequência foi o luxo. Hugo Gloss é o subproduto inesperado, que veio para acabar com a mesmice. Hugo Gloss é o inimigo do óbvio e dos donos de obviedades.

Que venha 2010, repleto de borbulhas e de surpresas! Se você não puder tomar champagne, beba pelo menos água com gás. O que importa é a postura. Desejo que vocês, meu funguinhos amados, consigam fermentar essas vontades reprimidas, liberando suas próprias borbulhas de luxo e glamour, e que cada pequena conquista diária seja digna de um brinde. Enfim, que vocês passem por 2010 e não que o ano de 2010 passe por cima de vocês. A cara da riqueza não está (apenas) nas suas roupas, está em você mesmo, é só escolher usá-la. Ahaze sem medo!

Beijos do Gloss, que já foi Doriana. Tin-Tin!!


(Texto escrito por @francfloyd)

sábado

Da Margarina ao Gloss: minha sina para o luxo




Tudo começou num almoço de domingo. Minha mãe, às vezes, chutava o pau da barraca. Deixava de pagar alguma conta e comprava para comermos frango de padaria, aquela obra de arte vulgar da gastronomia barata. Naqueles tempos, domingo feliz era domingo que tivesse frangão dourado com maionese e farofa. E foi num desses almoços que descobri minha luz própria. Depois de devorar uma coxona toda lambuzada de gordura, mamãe me mandou lavar a boca. Fui ao banheiro, que ficava na casa do vizinho, no fundo do nosso terreno. Subi num banquinho e, quando me olhei no espelho daquele armário de plástico, achei absoluta a minha boca toda brilhosa com o óleo do frango. Sensualizei. Beijei o espelho. Ali, naquele banheiro de fundo de quintal que nem era meu, do lado de um vaso todo respingado de urina seca amarelada, com cheiro de ranço, tive uma certeza: vim nesse mundo para brilhar!


O problema foi que, depois disso, não tinha frango para comer todo dia. Tive, então, a minha primeira crise de histeria. Eu era uma criança chiliquenta. Queria, a todo custo, andar por aí com os meus lábios cintilantes. Chorava, sapateava, dava gritinhos e mordia todo mundo que viesse falar comigo que aquilo não era coisa de menino. Mamãe não me aguentou e comprou um pote de margarina para mim. Eu A-M-E-Y. Bezuntava meus lábios, retocava com papel higiênico e saía para escandalizar a vizinhança. Não deixava de levar meu precioso pote de margarina nem mesmo para o colégio. Meus coleguinhas, maldosos que eram, passaram a me chamar de Doriana.


É, amados, Gloss já foi Doriana. Tempos difíceis. Nasci incompleto. Minha mãe era incompleta: meio pedicure, meio cabelereira e meio depiladora. Não era ninguém ao certo, é verdade. Mas era a única coisa certa que eu tinha. Faltou-me um pai, que só esteve presente no momento em que minha mãe lhe abriu as pernas aos 16 anos de idade. Sou filho de uma vontade hormonal inconsequente e de um óvulo em ebulição. Nasci fervido. Eu não nasci no luxo. Para dizer a verdade, o luxo nasce em mim.


Só deixei de ser Doriana depois que mamãe deu uma guinada na vida. Foi quando ela foi contratada, com exclusividade, para fazer os cuidados pessoais de uma cliente de meia idade, podre de rica, poderosa e solteirona. Tratava-se de Elvira Berta, à época, editora-chefe da revista VAGA, sucesso editorial da moda brasileira nos anos 80. Ela tinha uma personalidade difícil, era sufocante e mimada. A minha mãe, quando foi chamada para trabalhar com ela, entrou em pânico. Tinha feito a unha da mão dela uma única vez, num dos poucos períodos em que conseguiu trabalhar de carteira assinada em um salão badalado. Más línguas falavam que Elvira, senhora de trejeitões lésbicos, tinha por hábito contratar moças novas por quem nutria uma certa atração. Mamãe, dona de um instinto de sobrevivência ímpar, sabia se insinuar para manter seu emprego, quando isso fosse necessário para encobrir alguma falta de habilidade ou quando tirarava um bife.


Nossa vida melhorou bastante nesta época e, finalmente, pude abandonar o potão de margarina e comecei a usar manteiga de cacau. Um sonho há muito alimentado tornara-se realidade. Adorava girar a base para ver o bastão úmido subir. Passava primeiro no lábio inferior e depois, sensualmente, esfregava um lábio no outro. Com o tempo, decepcionei-me. Manteiga de cacau é uma das maiores enganações que a humanidade já produziu. Meus lábios ficavam ressecados. Até descobrir que o problema era do cacau e não meu, sofri demais. Achei que tinha perdido meu brilho. Entrei numa fase negra, pensei em me matar.


Fiz escândalos, tentei suicídio. Minha mãe, a contragosto e já sem saber o que fazer para que eu voltasse a brilhar, comprou para mim o "Morango do Amor" da Avon. Mas antes de me entregar, ela disse: "Hugozinho, comprei isso para você, mas só vou te dar se você me prometer uma coisa. Quando você tiver empolgado com algo em público, pelo amor de Deus, para de dar gritinhos! É feio filho, não é coisa de menino isso." Eu me fiz de sério e concordei. Corri para o quarto. Quando abri a embalagem, veio aquele cheiro gostoso, tive uma vontade imensa de comer tudo aquilo. Mas da primeira vez só passei nos lábios. Quando me vi no espelho, não me aguentei, e dei um gritinho bem agudo, fiquei serelepe por uma semana seguida. Até que, um belo dia, depois do almoço, sem nada para comer de sobremesa, não resisti. Corri para o quarto e enfiei a língua no moranguinho e comi tudo.


Com o brilho labial moranguinho tive aquela sensação de ter chegado ao auge. Veio então a fase da monotonia na minha adolescência. Meio perdido e sem saber o que fazer dali para frente, comecei a experimentar substâncias ilícitas. Nessa minha fase porra louca, passei todo tipo de droga labial: Davene, Monange, Hipoglos, Óleo de Máquina Singer, Azeite Gallo com 1,5% de acidez, vaselina, KY e até mesmo graxa. Tudo e mais um pouco passou na minha boca durante esse período. Tomei coragem e passei um batom vermelho. Quando me olhei no espelho comecei a chorar, estava ridículo com aquele batom. Eu tentava a todo custo encontrar a medida perfeita do brilho.


Passei muito tempo perdido e sem rumo, até que Elvira Berta, que foi a primeira celebridade cujo coração conquistei, me deu um tubinho de Gloss de presente de Natal. O Gloss foi a medida certa que encontrei. Gloss era o meio termo entre o batom e o lábio ressecado. Com o Gloss, não precisava usar batom. Nem precisava deixar meu lábio ressecado, correndo o risco de ser confundido com um hétero. Atualmente posso dizer que estou no meu auge. Foi com o gloss que cheguei à plenitude da realização labial. Depois de descobrir o gloss, definitivamente deixei de ser Hugo Adriano Raoni e passei a ser Hugo Gloss.  


(Texto escrito por @francfloyd)

quinta-feira

Mais do que Gloss: Mais que Social

O movimento “Mais Que Social”, com pouco mais de duas semanas de vida, causou horrores e já impactou a humanidade mais que a Revolução Francesa (nossa única concorrente de peso). Toda coluna social que se preze já divulgou o movimento e teceu críticas fervorosas. Nossos iPhone e Blackberry não param de tocar. Todos os jornalistas querem falar com ele, Hugo Gloss, o mártir da nossa ideologia perfumada. Ele tem recusado falar com a imprensa . Está cansado dos jornalistas resumirem suas entrevistas quilométricas em apenas duas linhas. Para manter a integridade do movimento, ele falou com exclusividade para o "Mais Que Pior":


- Você morreria pelo movimento “Mais Que Social”? Nunca! No máximo fingiria um desmaio.


- E lutar por uma causa? Para que, amado? Você gasta a sua beleza e quando a briga terminar ela já vai estar fora de moda. Eu lanço causas, que espalham por si mesmas, não preciso brigar para convencer as pessoas a gostarem do melhor.


- Você tolera a ditadura? Super tolero. A ditadura da moda e também aquela outra DitaDura.


- Cesta Básica? Nem pensar. Cesta mais do que básica, meu amor. Adeus ao arroz e feijão. Vida longa à Veuve Clicquot e ao Foie Gras. As pessoas andam subnutridas de elegância e glamour.


- O "Mais Que Social" pretende lançar algum programa, à semelhança do Bolsa-Família? Você tá louco, fifi? Comeu "carbo" depois das 18h, foi? Não sou o pai que passa a mão na sua cabeça porque a vida-madastra te chicoteia. Talvez, muito talvez, eu faça um Bolsa-Hermès.


- O que é a liberdade? Liberdade é você poder ir e vir. Ir para Dubai e pagar U$ 10.000,00 de diária do Burj Al Arab e depois voltar para Paris e gastar o PIB de um país africano nas comprinhas de final de semana.


O movimento já tem algum desafeto? Sim. Todo movimento tem um inimigo. No nosso caso, temos uma vilã: a Heloísa Helena. Ela aterroriza e ameaça diariamente a nossa ideologia com aquele visual fossilizado de blusinha branca e calça jeans. O que é isso, companheira? Até os "sans-cullote" tinham mais estilo.


- O declínio de uma ideologia? O Senador Suplicy trocar a bandeira vermelha do PT pela tanga vermelha do Super-Homem.


- Você tem alguma esperança com o cenário atual? Olha, a Era Obama tem sido tudo. O Obama será lembrado como um paradigma. Ele fez os políticos abandonarem as gravatas vermelhas e carregadas da Era Bush. Agora os tons estão bem mais claros e leves. E o Obama é um ótimo produto fashion. Ele tem sido inspiração para camisetas super descoladas.


- Mas e da política brasileira, aproveita alguma coisa? Somente a "Marta". Não a Suplicy, claro. Mas a base da mesa do nosso venerado Clodovil, em formato de cobra naja. Aliás, o amado Clô nos deu várias lições:




(Texto escrito por @francfloyd, com colaboração de @hugogloss e @camiladmarques)

Causas Mais Que Sociais

Com todo esse rebuliço criado em torno do movimento "Mais Que Social", estou agora em busca de "Causas Mais Que Sociais". Estou cansado desta febre de causa social. Causas sociais são tão Século XX. Além disso, a Madonna e a Angelina Jolie já adotaram metade do continente africano. E todos os animais em extinção já têm como padrinho um astro de Hollywood. 


Estou à procura de uma "Causa Mais Que Social".


A causa mais que social visa, antes de tudo, à erradicação do que é vulgar. Se você luta por uma Causa Mais Que Social, você luta por um mundo de desigualdade. Onde ninguém use o mesmo modelito. Onde todos sejam diferentemente elegantes.


Estou em dúvida sobre qual causa devo abraçar. Me ajudem, fifis:


- "Abaixo o pivô". Diga sim ao implante definitivo de dentes. Nunca mais passe vergonha ao vivo, Heloísa Helena, militante amada. Feche essa janelinha, minha ativistinha ferrenha e banguela;


- "Salvem a Caxemira". Não, não luto pela independência da Caxemira, mas sim pela sobrevivência das Cabras-da-Caxemira, cuja lã tem me fornecido os echarpes Burberry mais macios que já consumi;


- "Salvem o Flamingo". Aquele pescoção rosado me dá arrepios, para que mais motivos para manter esse espécie ereta, digo, viva?


- "Pelo bife de Kobe nosso de cada dia!" Dignidade é uma vaca passar a vida inteira tomando cerveja e comendo maçã para, quando abatida, nos fornecer a carne mais macia e saborosa da face da terra;


- "Pela Cirrose dos Gansos". Quero o meu patê de Foie Gras diário. O Foie Gras é o que se pode chamar de glamour goela abaixo.


Meu leitor adorado, a menos que você seja vegetariano, não se estarreça com meus pleitos mais que sociais. Nem me venha criticar por meus itens de consumo de alto luxo. Quero apenas propiciar que todos vocês também consumam o que há de melhor no mundo. Sacrifício de animal sempre existiu, ou você acha que aquele peito de frango todo trabalhado no hormônio, aquela carne de porco toda trabalhada na cisticercose e até mesmo aquele pedaço de colchão duro todo rendado no nervo foram produzidos em respeito aos supostos direitos dos animais?


Atrocidades por esse mundo é o que não faltam. Agora resta saber se vocês vão se contentar com sua causas meramente sociais ou se vão levantar essa bandeira de seda e abanarem os leques japoneses para as causas mais que sociais.


(Texto escrito por @francfloyd, com a colaboração de @camiladmarques)

domingo

Mais Que Social - Parte I


Eu, Hugo Gloss, não sou só mais uma cabecinha avoada e um lábio carnudo hidratado, neste delicioso mundo da futilidade.

Como pessoa bem vivida que sou, cheguei naquela encruzilhada da vida em que já me diverti demais, já causei demais, já fervi demais, já esbanjei demais... Estou vivenciando um tipo de conflito que nem mesmo 0,01% da população mundial terá o privilégio de enfrentar: o tédio do luxo absoluto. Sinto dentro de mim aquele vácuo existencial, sinto-me aprisionado no vazio glamuroso do Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes.

Nesse momentos, sempre procuro me superar. Sempre busco mais e mais dentro de mim, porque sei que sou uma fonte inesgotável de refinamento na arte do viver bem. Estou em busca algo novo, transgressor e polêmico.

De antemão, já aviso que sou contra os movimentos sociais porque eles se limitam a oferecer uma existência básica ao ser humano. Amados, existe proposta mais medíocre do que fazer um movimento para garantir apenas a subsistência? Isso não estimula ninguém a viver. Esses que se dizem ativistas não entendem que o ser humano vive atualmente uma incessante busca, não da sobrevivência, mas da elegância e da sofisticação. Por isso estou lançando o meu próprio movimento: o “Mais Que Social”. Quero ir muito além do básico.

Vocês podem me perguntar: “Por que não repaginar o Comunismo ou até mesmo a ideia de Democracia Capitalista”? Nem pensar, minhas criaturinhas de existência limitada.

O Comunismo para mim é UÓ. Como crer em uma ideologia que prega a divisão igualitária e forçada da pobreza? Como dar crédito, por exemplo, ao presidente Fidel Castro, que usou a mesma roupa por mais de três décadas? Aprenda uma coisa, amado leitor: nenhuma ideologia resiste à breguice. Ou você acha que se o presidente Lula não tivesse sucumbido aos encantos de um terno Ricardo Almeida, ele estaria arrasando tanto na popularidade? Aprenda outra lição: por trás de um grande homem, sempre tem um grande estilista. E mais, por maior que seja o homem, o terno sempre tem de estar milimetricamente ajustado. Enfim, do Comunismo, não se aproveita nem mesmo a figura icônica do Che, que já foi mais copiada do que uma Chanel 2.55.

Essa ideia de democracia capitalista também não me seduz. Dizem que você é livre. Sim, você é livre para escolher aquele emprego que paga o salário-mínimo mais vale-transporte ou aquele outro que paga o salário-mínimo mais o vale-refeição. Você também pode escolher se vai para o trabalho enlatado dentro de um ônibus ou se pode ir de van clandestina. E tudo isso para quê? Para no final do mês você ter o livre arbítrio de ir ao supermercado e escolher não o arroz de quinta, mas sim o de quarta, porque neste mês você fez hora extra.

Já disse, fifi, ABAIXO O BÁSICO e ADEUS À SUBSISTÊNCIA. Sua existência reluzente vale mais que um prato de comida. Viver a vida? NOT! Eu vim para arrasar na vida.

O movimento “Mais Que social” está além, muito além da mera sobrevivência. Uma causa “Mais Que Social”, antes de mais nada, busca resgatar a dignidade da sofisticação. O “Mais Que Social” incentiva a Elitocracia, em que a elite mais luxuosa e refinada dita as tendências. O “Mais Que Social” não tem uma sociedade, mas sim uma high society, em que todo cidadão é, antes de mais nada, um socialite.

Quer fazer parte “Mais Que Social”, suculento leitor? Aguarde, em breve serão divulgadas as diretrizes do movimento. 

Se você pretende ser um ativista das “Causas Mais Que Sociais”, mande a sua reivindicação, diga-me o que te atormenta.

Beijo do Hugo, todo lambuzado de Gloss.


(Texto escrito por @francfloyd, com a colaboração de @camiladmarques)

terça-feira

F.A.Q do Hugo Gloss


Alguns esclarecimentos sobre o perfil do @hugogloss do Twitter.
1) Hackearam o seu perfil do @christianpior?
Não. Assim como já evoluí do “fake” para o “cover”, agora dei mais um passo na evolução. Não sou mais “cover”, tenho minha própria personagem. De agora em diante atendo exclusivamente pelo nome Hugo Gloss.
2) Por que você fez isso?
Porque mais cedo ou mais tarde isso tinha de acontecer. “Cover” tem dois destinos: ou passa o resto da vida imitando; ou cria vida própria. Obviamente optei pela minha própria personagem.
3) Você vai mudar o seu jeito de ser no Twitter? Vai parar de dar bom-dia?
Não. A essência do “cover” já era o meu EU galmuroso. A única diferença é que agora me expressarei por meio de uma personagem própria.
4) Você foi contratado por uma emissora de TV?
Prefiro não comentar.
5) O nome da sua personagem do programa Pânico na TV também vai mudar?
Se você nunca entendeu que o perfil @christianpior era um “cover” da personagem do Evandro Santo, não vai entender como um “cover” vai se transformar em uma personagem própria.
6) Você saiu do programa “Pânico na TV”?
Meu querido, se você tem esse tipo de dúvida também não deve saber nem mesmo em que planeta está. Nunca fui do Pânico na TV. Pela milésima vez: fui “cover” da personagem Christian Pior no Twitter. Agora não sou mais.
7) O seu nome é Hugo?
Não. Hugo Gloss é o nome da personagem.
8) "Por favor, me divulga? Tenho poucos seguidores!"
Não.
9) Você não faz nada o dia inteiro? Só vive noTwitter?
Colegas, é para quem pode. Ainda não me pagam para twittar, mas vai que numa dessas…
10) Você não dorme?
Vivo no fuso europeu. Recuso a me adaptar a esse horário de terceiro mundo.
11) "Você twitta demais!"
Unfollow me.
12) O seu Twitter é mantido por uma equipe?
Não. Apenas uma pessoa atualiza. Mas dicas vêm de todos os lados.
13) Preciso entrar em contato com você, como faço?
Basta mandar uma mensagem para o meu e-mailhugoglossy@gmail.com
14) O que significa F.A.Q.?
Abreviatura da expressão Frequently Asked Questions. Para você que não conseguiu concluir oFisk, significa "Perguntas Frequentes", em regra, sobre um determinado tema.

MUDANÇA URGENTE!!!

Nosso cover sublime, influenciado por Zaqueu, resolveu largar sua vida usurpadora. Agora temos um novo BOSS... O poderoso @HugoGloss! O Perfil @christianpior foi DESATIVADO ETERNAMENTE, não será mais atualizado por NINGUÉM.... O nosso amado cover, agora todo trabalhado na originalidade, atende ÚNICA e EXCLUSIVAMENTE no @HugoGloss! FOLLOW HIM!!


quarta-feira

BAFÃO!! Coluna da Mônica Bergamo, Folha de São Paulo

Sumiço de roupas vira escândalo "secreto" na Daslu


Um misterioso sumiço de roupas agitou, por várias semanas, os corredores da Daslu, a butique que congrega algumas das grifes mais exclusivas e caras instaladas no Brasil.

As mercadorias começaram a desaparecer de prateleiras e cabides aos poucos. Mas, em determinado momento, o desfalque chegou a R$ 200 mil.


Há alguns dias, a bomba explodiu: a ladra era uma alta funcionária de uma das joalherias instaladas na própria butique.


Como várias outras mulheres que ocupam cargo de importância em lojas autorizadas a funcionar na Daslu -em geral, pessoas de alto poder aquisitivo e amigas das próprias frequentadoras do lugar -, ela tinha permissão para pegar roupas de grifes e levar à joalheria para mostrar às clientes.

Acontece que, uma vez com a roupa, a gerente retirava os detectores da peça -aqueles que disparam um apito quando a pessoa sai da loja sem pagar -e saía tranquilamente pela porta da frente com a mercadoria surrupiada.


Depois de uma investigação interna, feita com a ajuda de câmeras, o mistério foi desvendado. Os detectores foram encontrados num esconderijo na joalheria. O escândalo, por "razões humanitárias", foi abafado.


A mulher acusada dos furtos foi encaminhada para um tratamento psiquiátrico. A butique não comenta.


(Notícia extraída da versão online da Folha de São Paulo do dia 30 de setembro de 2009. Coluna da jornalista Mônica Bergamo.)

quinta-feira

Matéria no Jornal O TEMPO de BH!




Fake famoso
Postado por Rodrigo Soares
blogdepapel@otempo.com.br

Na internet, pelo menos no dia de hoje, uma verdade é absoluta: o Orkut ficou para trás. O Twitter é o grande queridinho dos internautas e, a cada dia, novos usuários aderem ao site para debaterem sobre tudo que vier à cabeça.

O mais popular entre todos os twitteiros brasileiros hoje é, como não poderia deixar de ser, uma figura televisiva: Luciano Huck. E, com o apelo da telinha, vários outros famosos também possuem um séquito de seguidores que, em muitos casos, superam populações de diversas cidades ou países ao redor do mundo: Marcelo Tas, Marcos Mion e Bruno Gagliasso, apenas para ficar entre alguns nomes.

Quem também figura nesta lista é Christian Pior, conhecido por ser um dos personagens do programa "Pânico na TV". Entretanto, a versão "twitteira" do personagem não é comandada por Evandro Santo (que vive Christian na TV), mas um cover que, em um caso no qual o criador supera a criatura, possui mais seguidores do que o "oficial" (o cover possui mais de 250 mil leitores, enquanto o ator tem "apenas" 144 mil).

"O perfil foi criado em 2008 como uma brincadeira. Às vezes eu postava no meu perfil pessoal frases que ele dizia na rádio ou que ele postava no blog dele, por isso eu resolvi criar o @christianpior e fazer a mesma coisa lá. No começo eram poucas postagens, até que um dia comecei a comentar mais notícias e programas de TV", afirma o responsável pelo perfil, que prefere não se identificar. "Coloca aí que dizem que é um ser iluminado que vive de herança e twitta usando wi-fi dos melhores hoteis 5 estrelas da Europa", responde ele, questionado sobre o que poderíamos dizer sobre sua identidade.

E quem pensa que existe algum problema entre fake e original, engana-se. Embora muito se tenha dito na mídia sobre a suposta intenção de Evandro Santo processar o seu cover, de fato nunca houve nenhum problema entre eles.

"Desde o começo, quando começaram as polêmicas, sempre preferi entrar em contato diretamente com ele para resolver eventuais problemas. Quando os veículos de comunicação resolveram adotar o Twitter como fonte de informação para publicar matérias, o Evandro achou que era necessário eu deixar mais visível que ele não era o responsável pelo perfil, pois jornais estavam publicando frases minhas como se fossem dele. Por conta disso, coloquei a palavra ‘cover’ na foto, que é um fake evoluído digitalmente", diz o humorista da web. Santo aprova a "homenagem" e desmente qualquer intenção de tirar o cover do ar. "Ele é muito criativo."

Mas, pelo menos por enquanto, o fake não quer sair da sombra do anonimato. Embora tenha alguns planos para o futuro - que inclusive passam por criar outras facetas com o mesmo tipo de humor -, como Christian Pior ele diz não ter planos de expandir seu "trabalho" ou transformar seus ácidos comentários em dinheiro.

"Eu nunca pensei em ter sucesso ou fazer dinheiro com Twitter. E nem poderia. Christian Pior não é uma criação minha e não seria ético ou profissional que eu ganhasse dinheiro usando o nome do personagem do Evandro. Isso quem tem que fazer é ele. É mesmo uma forma de diversão. Pode ser que no futuro eu crie um outro personagem, mas por enquanto é apenas uma ideia", diz o fake.

Seguidores
Até a tarde de ontem, Luciano Huck (@huckluciano) possuia 993.576 seguidores. Marcelo Tas (@marcelotas) tinha 349.248, Marcos Mion (@mionzera), 284.657, e Bruno Gagliasso (@bgagliasso), 220.819.

Christian Pior cover
Além do Twitter, é possível ler um pouco mais da suposta vida do personagem emwww.maisquepior.blogspot.com. "O blog também é usado às vezes quando quero postar algum conteúdo maior. No momento, não tenho a pretensão de aumentar minha área de atuação, até porque não tenho para onde expandir", diz o misterioso cover.

Anonimato
Sobre as especulações acerca de sua identidade, o fake diz se divertir muito. "Já disseram que sou uma mulher e que sou um perfil escrito a oito mãos. Aí eu brinquei que sou um polvo e não sabia." Mas ele acredita que, se revelar quem verdadeiramente é, a graça acaba. "Acredito que haja quem queira saber, mas também acho que a maioria das pessoas não está muito preocupada com isso. Elas preferem não saber, porque leem os posts com a voz do Christian, o que é, de fato, a intenção", diz ele.

Fake
Além de Christian Pior, alguns outros covers ou personagens fazem muito sucesso na web, entre eles O Criador (@ocriador), que escreve como se fosse Deus, ou o de José Mayer (@zemayerfactso), que twitta brincando com a fama de conquistar do famoso galã de novelas.

Publicado em: 24/09/2009

Entrevista de @christianpior no Diário da Manhã, de Goiânia

CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR. Leia a matéria completa sobre perfis "Fake" no www.dmdigital.com.br (Seção REVISTA DIGITAL) ou a versão somente texto no www.dm.com.br

segunda-feira

Intervalo

Assíduos e asseados leitores, pelos próximos dias não vamos psicografar a história do @christianpior. Calma, não se descabelem. É uma breve licença capacitação, para nos aperfeiçoarmos na arte do bem-viver. Estamos particularmente ansiosos com nossa aula de Gramática da Navalha - Aprendendo Termos que Só a Vida Ensina. Aproveite esse tempo de calmaria para reler os textos, é o nosso passatempo predileto. No início de outubro voltaremos. Ele, @christianpior, continuará no Twitter.

domingo

In Paris with Paris

Depois de juntar milha por milha desde o meu primeiro cartão de crédito, finalmente consegui dar um upgrade na minha existência e fazer uma viagem na primeira classe. O meu destino? Não é mais a pobreza, mas sim Paris. Quando embarquei, fiz aquela cara de “isso tudo para mim não é nada”. O luxo nunca me intimidou, a ideia de uma vida simplória, sim, aterroriza-me.

Quando sentei e olhei para o lado, adivinhem quem estava lá? A modelo, atriz, cantora, escritora, empresária e, sobretudo, a herdeira: Paris Hilton. Ao seu lado, estava Marlyin Monroe, sua cachorrinha, com um look a la Xuxa: pelos descoloridos e jaquetinha jeans. Quase tive um piripaque. Respirei fundo e mantive a compostura. Fiquei me corroendo por dentro, meu coração sapateava de emoção. Agora eu só tinha um objetivo em mente: até o final daquele voo eu seria o BFF da Paris.

Tive um pequeno probleminha no início: a desgraçada da cachorra não facilitou minha aproximação. Implicou comigo e não parava de latir. Eu dava risadinhas simpáticas, mas na verdade queria estrangular aquele rato peludo histérico. Paris me surpreendeu. Pediu desculpas pelo comportamento inadequado de Marlyin. Disse que a cadela estava estressada porque não era habituada aos voos comerciais.

Fiz a linha “sou fútil e amo meu yorkshire”. Disse para ela que também tinha uma cadelinha, a Rita Cadillac. Contei que não a tinha trazido porque ela era bem velhinha e estava com uma dor misteriosa no intestino há 11 dias. Os médicos suspeitavam ser síndrome do cólon irritado. No entanto, eu disse que não confiava muito naquele diagnóstico. Confessei que não me saía da cabeça a tarde que Rita passou com um rottweiler. Paris se comoveu e também confessou que Marlyin não estava tão bem. Inclinou-se para o meu lado e sussurrou que ela estava se recuperando de uma crise de alopécia, que quase ficara careca e que aquilo corroera sua auto-estima canina. A sorte foi ter encontrado um tratamento experimental de implante de pelos. Senti que ali, em meio às confidências, formou-se um laço amizade.

Voltei para leitura da minha Vanity Fair. Paris mais uma vez me surpreendeu. Tirou da sua Bottega Veneta  um livro: Hell de Lolita Pille. Para você, querido leitor, que mora nesta economia emergente de terceiro mundo e gasta todo o dinheiro que tem na lanhouse da esquina, perde tempo bisbilhotando a vida alheia no Orkut, em vez de se informar para sair da pobreza, Lolita é um patricinha francesa mui loca que escreveu um livro autobiográfico sobre sua vida desregrada no luxo e glamour.

Eu, que sou tendência, já tinha lido o livro de cabo a rabo. Inclusive, anotei os trechos preferidos no meu Moleskine. Ficamos, então, trocando nossas citações preferidas. Logo na primeira frase, em que a protagonista Hell se apresenta, Paris se extasiou e, como uma criança que quer compartilhar seu momento de euforia, releu: “Eu sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis; da pior espécie. Meu credo: seja bela e consumista.” “Trabalhar não faz parte da longa lista dos meus talentos”.

Não demorou muito, não se aguentando de tanta empolgação, ela leu outro trecho para mim: “A verdade é que a gente fica completamente de saco cheio sem ter mais nada o que desejar. O  mundo é pequeno demais, com oito anos a gente já deu umas dez vezes a volta nele na classe executiva...” Mal terminou de ler e me perguntou: “Isso não é a mais pura verdade?!”. Nem pestanejei e disse que sim, que era um tédio mesmo. Mas pensei cá com meus botões... Aos oito anos, quando papai queria me agradar, ele passava brilhantina no meu cabelo e me colocava na carroceria do caminhão. Como ele não tinha dinheiro para comprar um toca-fitas, a gente ficava rodando na cidade até que tocasse As Frenéticas no rádio. Então começávamos a cantar loucamente pela cidade: “Eu sei que eu sou bonita e gostosa e sei que você me olha e me quer”.

Recordações à parte, eu e Paris soluçamos de tanto chorar quando relemos a parte em que Hell entra em crise em frente à vitrine da Baby Dior por ter feito um aborto. Aproveitei este instante de comoção. Abri-me com ela. Falei que minha família também administrava uma bem-sucedida rede de “hotéis” chamada Shana Graúda. Enfim, contei minha história de vida. Dei aquela maquiada, é claro. Ela amou tudo que falei. Já era de se esperar, foi apenas mais uma celebridade que se rendeu ao meu ar de sibarita e, inevitavelmente, tornou-se minha BFF.

Chegando em Paris, segurei nos braços de Paris, olhei fixamente em seus olhos e disse: “Amiga, vamos transgredir! Quero escornar embaixo do Arco do Triunfo com uma garrafa de Champagne Cristal! Quero violar a lei francesa! Quero usar aquele rastreador eletrônico no tornozelo. Quero que o nosso rastro de luxo e esbórnia seja monitorado!”. Ela me levou para festas privadas no Ritz. Montados em um Porsche, dirigíamos bêbados na Champs-Elysées ao som de Silicone Soul. Gongávamos horrores as pessoas. Fizemos vídeos proibidos. Tiramos fotos comprometedoras. Enfim, tornei-me a tampa da sua Le Creuset.

Em um belo dia, sem mais nem menos, ela acordou e disse que não era mais minha BFF. Que a minha amizade para ela era “so last season”. Eu chorei, entrei em depressão. Paris sem Paris não tinha sentido. Meu mundo caiu. Pensei em vingança. Felino que sou, ameacei colocar os vídeos dela no meu blog. Ela se importou? NOT! Muito pelo contrário, usou aquela ideia contra mim. Como sabia de todo o meu sucesso no Twitter, ela disse que ia revelar minha identidade.


Texto escrito por @francfloyd, com colaboração de @camiladmarques.
(Todas as citações do nome @christianpior referem-se ao personagem "cover"do Twitter. O perfil verdadeiro do Evandro Santo é @santoEvandro).